24 de dezembro de 2007
ROTEIRO POLA SERRA DO BARBANÇA.
Reportagem do Roteiro pola Serra do Barbança
Aquí temos os melhores momentos do roteiro reivindicativo pola serra barbançá.
Pasando pola ponte medieval da misarela
Polas ruinas do convento da misarela, fundado numha ladeira sobre o río pedras no 1392. O convento na súa época deveu de estar num marco incomaparavel no meio da fraga
A fervença ao carón da cal subimos até perto dos 600 metros. Esta fervença em rampa forma umhas pequenas piscinas de especial beleza
Os tojos e a forte pendente nom conseguirom desanimar aos montanheiros e montanheiras
Magnífica vista da ría da Arousa tam só estragada polos muinhos eolicos como ocorre em tantísimos montes galegos. E na foto nom se pode sentir o insoportavel zumbido que produzem, que se ouve a quilómetros de distancia.
Pasamos pola mámoa da estivada e começamos um apicuado descenso por rochas e tojos
E ja pra rematar a obrigada foto de grupo
APRESENTAÇOM DO ROTEIRO:
ROTEIRO POLA SERRA DO BARBANÇA.
Se estás interesad@ em participar neste roteiro chama ao número 636 828 935.
A Agrupaçom de Montanha ‘Augas Limpas’ estreia a sua actividade reivindicativa e de lazer por terras do Barbança. No dia 26 de Dezembro, caminharemos umha comarca inçada de riqueza natural, estragada polos de sempre. Ao igual que acontece em qualquer ponto da geografia galega, a desestruturaçom económica (a decadência dos sectores produtivos primários) deixou a comarca ao serviço de políticas que destruem sistematicamente o contorno natural: eléctricas, imobiliárias, madeireiras, gozam de total impunidade com apoio da administraçom.
O Barbança é umha comarca de clima tipicamente atlántico, com precipitaçons que rondam os 2600 mm durante quase a metade dos dias do ano. Tem temperaturas suaves, o que dá lugar a umha vegetaçom típica do atlántico costeiro com influências mediterráneas. Sobrevive o tojo e o fieito, junto com as uzes. Porém, o arvoredo tradicional só sobrevive nas zonas avesias e nas ribeiras dos rios. O monocultivo de pinheiro silvestre, pinheiro marítimo e eucalipto varreu os carvalhos e as sobreiras.
Esta agressom ao hábitat ameaça também a fauna da zona: o falcom pelegrino, a curuja, o lobo, o corço, o jabali ou o raposo. A serra do Barbança é conhecida também polo gado ceivo: cavalos que possivelmente descendam dos primitivos ‘barbançons’.
Andaremos as máximas alturas da zona: o Iroite, com os seus 685 metros, o Barbança, com 667 metros, e os Forcados da Curota, com 618 metros. A proximidade ao mar permite aceder a vistas impressionantes.
Riqueza ameaçada polos ladrons de sempre.
Entre as muitas riquezas da zona acha-se o complexo húmido de Corrubedo, vítima do turismo massificado e da especulaçom urbanístico-industrial. Pairam as ameaças dumha piscifactoria em Couso (Aguinho), os vertidos industriais do polígono da Granha e Couso, as canteiras de Casal Novo, a planta de áridos de Bretal...Foi declarado parque natural em 1992, mas segue sem haver protecçom nengumha. A futura autovia do Barbança vai convertê-lo num espaço ainda mais ameaçado polos deslocamentos massivos.
Outra piscifactoria projectada, a de Ponta dos Corvos, ameaça o norte da península, de Espinheirido a Baronha.
O interior também sofre pressons. A carvalheira de Sabuceda, no concelho de Boiro, está a agonizar. Os contínuos incêndios e as talas nom selectivas fam-na cada vez mais pequena.
Os fermosos cumes da Serra do Barbança estám estragados por um modelo que já demonstrou o que valia: monocultivo, incêndios florestais, e parques eólicos. Os parques eólicos Barbança I e II, situados na Póvoa e em Porto Doçom, estám gestionados por Endesa Cogeneración e por Eurovento. Nom servem para aforrar consumo de outros sectores energéticos, senom para aumentá-lo em todos eles.
O problema: dependência e desarrolhismo.
A Serra do Barbança demonstra como se estragam as riquezas galegas, quando as decisons nom as planifica o próprio país, senom as multinacionais com ajuda do Estado espanhol: transnacionais da energia (Endesa), do peixe (StoltSeaFarm), do automóvel (autovias). Vivemos segundo o modelo que nos obrigam de fora.
Também resulta lamentável que todos os partidos institucionais, sem excepçom, defendam o desarrolhismo: umha economia que medra sem parar para estragá-lo todo e criar lucros sem fim. De AMAL pensamos que nom se trata de ‘medrar’, senom de satisfazer as necessidades básicas dos povos. Decrescer para viver melhor e dignamente.
Nom confiamos nos políticos nem no seu ‘desenvolvimento sustentável’: confiamos na reivindicaçom de base. Conhecimento da Terra, denúncia constante e conscienciaçom.
O BARBANÇA NOM SE VENDE. GALIZA NOM SE VENDE.
Dezembro de 2007.
7 de dezembro de 2007
Querem comprar a nossa terra
Passárom cento vinte anos desde que foi escrita esta carta, que já tem circulado na nossa língua. Arredam-nos milheiros de kilómetros e grandes distáncias culturais, e sem embargo assombra a sua vigência. O líder do povo Duwamish, na América do Norte, escreve aos seus ocupantes contra a destruiçom da Terra e o futuro que aguarda aos povos. De leitura mui recomendável, nestes tempos em que a Galiza é reocupada com piscifactorias, mini-centrais, eólicos, urbanizaçons e trem de alta velocidade.
'O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele nom precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se nom o fixermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteraçom das estaçons do ano.
Minha palavra é como as estrelas - elas nom empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se nom somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como entom podes comprá-los? Cada torrom desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir som sagrados nas tradiçons e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordaçons do homem vermelho.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas som nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - som nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertecem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas nom vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos nom é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordaçons da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os riois som nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios som irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
Sabemos que o homem branco nom compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra nom é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das moms de seus filhos e nom se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como cousas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Nom sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.
Nom há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Nom há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem nom pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece nom perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensivel ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragância das flores campestres.
Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condiçom: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e nom compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisões que (nós - os índios ) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidom de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chom debaixo de seus pés som as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra som as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos. A terra nom pertence, ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estám interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. nom foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fixer à trama, a si próprio fará.
Os nossos filhos vírom seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adoçicados e bebidas ardentes. nom tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles nom som muitos. Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos um povo que um dia foi tam poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas nom podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vam acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vocês brilharom com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxo a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois nom podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visom do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco som para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança nom passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coraçom de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteje-a como nós a protegíamos. "Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse": E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coraçom - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.'
'O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele nom precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se nom o fixermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteraçom das estaçons do ano.
Minha palavra é como as estrelas - elas nom empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se nom somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como entom podes comprá-los? Cada torrom desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir som sagrados nas tradiçons e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordaçons do homem vermelho.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas som nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - som nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertecem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas nom vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos nom é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordaçons da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os riois som nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios som irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
Sabemos que o homem branco nom compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra nom é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das moms de seus filhos e nom se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como cousas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Nom sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.
Nom há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Nom há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem nom pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece nom perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensivel ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragância das flores campestres.
Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condiçom: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e nom compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisões que (nós - os índios ) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidom de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chom debaixo de seus pés som as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra som as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos. A terra nom pertence, ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estám interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. nom foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fixer à trama, a si próprio fará.
Os nossos filhos vírom seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adoçicados e bebidas ardentes. nom tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles nom som muitos. Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos um povo que um dia foi tam poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas nom podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vam acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vocês brilharom com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxo a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois nom podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visom do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco som para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança nom passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coraçom de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteje-a como nós a protegíamos. "Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse": E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coraçom - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.'
3 de dezembro de 2007
TOD@S A VIGO O 6 DE DEZEMBRO
O 6 de Dezembro será contestado polo soberanismo galego na cidade de Vigo com umha manifestaçom nacional convocada por Causa Galiza. Será a segunda vez que a entidade autodeterminista sairá à rua no presente ano em favor dos nossos direitos nacionais. No passado dia da Pátria, o corpo social articulado em Causa Galiza logrou juntar em Compostela as reivindicaçons nacionais da mao de um grosso número de participantes. Desta volta a marcha, que partirá desde a Via Norte de Vigo às 12h30 levará a legenda Pola autodeterminaçom, nom à constituiçom espanhola e centrará a sua denúncia no papel colonial que Galiza joga no marco da constituiçom espanhola.
Reproduzimos na íntegra o manifesto tirado do prelo para a convocatória:
O movimento polos direitos nacionais galegos precisa de se rearticular e rearmar. A chamada 'correcçom política' tem expulsado o exercício dos direitos colectivos fora do quadro jurídico-político, fora da actualidade do debate social, e fora dos meios de comunicaçom de massas. Os grandes poderes económicos e políticos actuantes na Galiza seguem na posiçom de sempre: som inimigos da soberania galega, porque a decisom do nosso povo sobre os seus destinos colectivos poderia barrar os seus planos da desfeita: privatizaçom do território, turistificaçom, restriçom de direitos dos trabalhadores e economia do tijolo.
Na actualidade, a grande imprensa empresarial é umha portavozia obediente dos conglomerados industriais, as promotoras e as transnacionais da energia.
Todos os partidos institucionais, sem excepçom, também estám interessados em marginalizar a exigência autodeterminista: vivem em exclusiva para gerirem um modelo territorial e socioeconómico que consideram indiscutível, exprimindo os seus máximos lucros para manter os profissionais da política. A galeguidade nom é para eles a defesa de umha identidade agredida e/ou de um projecto de poder popular, mas um verniz sentimental para consolidar os seus postos e condimentar os seus negócios. Sob o governo destas estruturas incontestadas, oficializa-se o mercadeio e a imagem, a cousa pública eleva-se a dedicaçom privada, expande-se o jogo de favores e a gestom da miséria, e a crítica radical risca-se de inoportuna e molesta. Nunca na nossa história a palavra 'política' estivo tam deslegitimada, e nunca foi tam preciso revitalizar, no trabalho e na rua, o sentido emancipador da causa galega. Se nom for assim, perante um panorama generalizado de agressom sem resposta, as maiorias sociais instalarám-se de vez na desídia.
O espanholismo, através dos seus dous grandes partidos, nom abandona jamais a sua soberba. Reafirma-se na sua trincheira constitucional e, de boca grande, di às naçons nom espanholas da Península que nom cede no seu direito de conquista: o monarca nom se pode questionar; a autodeterminaçom e ilegal e mesmo toda reforma estatutária passa finalmente pola peneira de Madrid; os tribunais de excepçom mantenhem-se activos, e @s independentistas som julgad@s pola audiência nacional, ao ditado do executivo e das suas conveniências conjunturais. Em contraposiçom, os autonomistas e nacionalistas mornos falam de boca pequena, tatejam reivindicaçons mínimas, e pedem um bocado de tacto na sua procura de quota eleitoral. Mas já passou a etapa das concessons aparentes, e a hispanidade 'plural' do governo de hoje converge, no fundo, com o modelo que a extrema-direita vem promocionando.
Causa Galiza rejeita a constituiçom espanhola de 78, surgida da reforma do regime franquista, que é o quadro jurídico, político e administrativo para a opressom da Galiza, a exploraçom da classe trabalhadora e a, que proíbe expressamente o exercício do direito de autodeterminaçom e é garante da “unidade de Espanha”.
Causa Galiza considera que a reivindicaçom do direito de autodeterminaçom virá da mao da luita do povo trabalhador de unha óptica de esquerda, assim pretendemos que a reivindicaçom autodeterminista alcance maior profundidade e dimensom; para isso tem que ligar-se com tantos conflitos parciais que se livram no País e chamamos a participar na manifestaçom do 6D às organizaçons sociais, políticas e sindicais que defendem o direito de um povo a decidir.
Causa Galiza insiste em pôr de novo a reinvidicaçom elementar da soberania galega, sem ceder nem um milímetro na exigência de autodeterminaçom como única garantia democrática face à imposiçom constitucional. Neste dia da Constituiçom espanhola, queremos insistir na vigência da nossa luita, somando-nos a todos aqueles e aquelas que exercem os seus direitos dia a dia, luitando contra as agressons imperialistas, sem renunciarmos à rua como cenário fundamental de acçom social e política.
Esta iniciativa quer contribuir para erguer um espaço pola soberania plena que dê eco às luitas que articulam à gente autoorganizada em todos os campos da vida.
Na Galiza, 6 de Dezembro de 2007
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM
As saídas ao monte som mais que um entretimento ou um exercício físico. Também som algo mais que um consumo compulsivo de beleza e de paisagem. Nom nos interessam os reptos, as marcas ou os desafios desportivos. Botar-nos ao monte significa saúde, convívio, conhecimento e luita. Por isso nas nossas mochilas nunca vai faltar umha bandeira, um sprai que nos dé voz ou um acto-manifesto reivindicativo. Queremos demoler a dissociaçom que o capitalismo espanhol faz das nossas vidas, enlatando-nos em tempos mortos para o lezer-consumo, para o trabalho, para a política. O novo tempo de vida vai ser simultaneamente um tempo de convivio, de desfrute, de esforço e luita. Queremos romper com qualquer tempo produtivo-responsável, valorizado e rotinário, para abraçar a vida e estabelecer umhas novas relações sociais. O conhecimento só tém lugar no mundo da vida.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do Clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botámo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do Clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botámo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM.
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM
As saídas ao monte som mais que um entretimento ou um exercício físico. Também som algo mais que um consumo compulsivo de beleza e de paisagem. Nom nos interessam os reptos, as marcas ou os desafios desportivos. Botar-nos ao monte significa saúde, convívio, conhecimento e luita. Por isso nas nossas mochilas nunca vai faltar umha bandeira, um sprai que nos dé voz ou um acto-manifesto reivindicativo. Queremos demoler a dissociaçom que o capitalismo espanhol faz das nossas vidas, enlatando-nos em tempos mortos para o lezer-consumo, para o trabalho, para a política. O novo tempo de vida vai ser simultaneamente um tempo de convivio, de desfrute, de esforço e luita. Queremos romper com qualquer tempo produtivo-responsável, valorizado e rotinário, para abraçar a vida e estabelecer umhas novas relações sociais. O conhecimento só tém lugar no mundo da vida.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botamo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve a ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
As saídas ao monte som mais que um entretimento ou um exercício físico. Também som algo mais que um consumo compulsivo de beleza e de paisagem. Nom nos interessam os reptos, as marcas ou os desafios desportivos. Botar-nos ao monte significa saúde, convívio, conhecimento e luita. Por isso nas nossas mochilas nunca vai faltar umha bandeira, um sprai que nos dé voz ou um acto-manifesto reivindicativo. Queremos demoler a dissociaçom que o capitalismo espanhol faz das nossas vidas, enlatando-nos em tempos mortos para o lezer-consumo, para o trabalho, para a política. O novo tempo de vida vai ser simultaneamente um tempo de convivio, de desfrute, de esforço e luita. Queremos romper com qualquer tempo produtivo-responsável, valorizado e rotinário, para abraçar a vida e estabelecer umhas novas relações sociais. O conhecimento só tém lugar no mundo da vida.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botamo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve a ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM.
Achegamos um texto da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’, onde se analisa o significado da Terra e a paisagem para o nacionalismo galego, e se traceja umha oportuna distinçom entre o ‘lezer-consumo’ e o tempo de vida da formaçom e a luita.
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM.
As saídas ao monte som mais que um entretimento ou um exercício físico. Também som algo mais que um consumo compulsivo de beleza e de paisagem. Nom nos interessam os reptos, as marcas ou os desafios desportivos. Botar-nos ao monte significa saúde, convívio, conhecimento e luita. Por isso nas nossas mochilas nunca vai faltar umha bandeira, um sprai que nos dé voz ou um acto-manifesto reivindicativo. Queremos demoler a dissociaçom que o capitalismo espanhol faz das nossas vidas, enlatando-nos em tempos mortos para o lezer-consumo, para o trabalho, para a política. O novo tempo de vida vai ser simultaneamente um tempo de convivio, de desfrute, de esforço e luita. Queremos romper com qualquer tempo produtivo-responsável, valorizado e rotinário, para abraçar a vida e estabelecer umhas novas relações sociais. O conhecimento só tém lugar no mundo da vida.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botamo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve a ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
NOM CONSUMIMOS PAISAGEM.
As saídas ao monte som mais que um entretimento ou um exercício físico. Também som algo mais que um consumo compulsivo de beleza e de paisagem. Nom nos interessam os reptos, as marcas ou os desafios desportivos. Botar-nos ao monte significa saúde, convívio, conhecimento e luita. Por isso nas nossas mochilas nunca vai faltar umha bandeira, um sprai que nos dé voz ou um acto-manifesto reivindicativo. Queremos demoler a dissociaçom que o capitalismo espanhol faz das nossas vidas, enlatando-nos em tempos mortos para o lezer-consumo, para o trabalho, para a política. O novo tempo de vida vai ser simultaneamente um tempo de convivio, de desfrute, de esforço e luita. Queremos romper com qualquer tempo produtivo-responsável, valorizado e rotinário, para abraçar a vida e estabelecer umhas novas relações sociais. O conhecimento só tém lugar no mundo da vida.
Combatemos a tecnocultura mercantil-promocional espanhola, que só produz espaços de lixo. Nom queremos olhar à nossa Terra convertida em 35.691,9 quilómetros de merda. Nom queremos que a nova ordenaçom tecnológica-metafísica do mundo medeie os lugares nos que nascêmos e vivemos. Esta terra na que jogamos, esta terra na que nos rebalgamos, esta terra na que bebemos e da que tiramos os alimentos é nossa.
Esta terra, este lugar, este espaço, esta paisagem som nossos porque neles estám inscritas as nossas vidas e a nossa memória colectiva e só nós temos direito a mediar novas interacções e articulações específias das relações sociais (sócio-culturais) nom mercatilizadas. Ou defendemos os nosso espaços-de-vida ou sucumbimos na tumba do espaço-lixo espanhol, que faz incerto o lugar no que estamos, obstaculiza o caminho polo que imos e desmonta o sítio de onde vimos.
Combatemos implacavelmente a nova engenharia mercantilista da tam socorrida “posta em valor” dos recursos naturais, a face contável do espaço-lixo de marca. A exteriorizaçom do espaço-lixo permitiu a profissionalizaçom da desnaturalizaçom, um ecofascismo benigno que situa um tigre siberiano em perigo de extinçom num bosque de tragaperras. O ar, a água, a madeira: todo se realça para produzir umha hiperecologia santurronamente invocada para lograr o máximo rendimento. O sistema produtor de mercadorias transforma o nosso espaço e o nosso tempo em mercadorias. A economia trabalha com eficiência para transformar toda a nossa terra num fedorento depósito de lixo à vez que nos extingue como povo. Os fundamentos naturais som destruídos pola lógica abstracta do dinheiro; mas a reparaçom dos fundamentos naturais, por sua vez, custa dinheiro, que primeiro tem de ser “ganho”. Para poder reparar as destruiçoes causadas polo dinheiro, a sociedade, portanto, tem de “ganhar” mais dinheiro e provocar mais destruições. É fácil calcular que tal círculo se torna cada vez mais vicioso, para prejuízo da natureza e dos fundamentos da vida. Assim é impossível solucionar o problema ecológico a partir da lógica estrutural do sistema.
Devemos impedir a vitória da economia sobre a vida. O dia que a Primavera só seja umha campanha promocional do Corte Inglês esse dia teremos perdido para sempre o direito à dignidade.
Sabemos aliás que o lezer contemporáneo acabou configurando-se como um conjunto de actividades do tempo social decisivas quanto aos mecanismos de consenso, reproduçom e estabilizaçom social. A indústria cultural-desportiva-de tempo livre converte em saneados negócios as actividades de lezer dos seus clientes e transforma os lugares que antes tinham umha complexa funcionalidade social e que suportavam as múltiplas manifestações da sociabilidade em espaços-lixo mercantilizados para a roda da autovalorizaçom do dinheiro.
Se os galegos e galegas perdemos o controlo dos nossos espaços (e hoje, por diversas razões, isto já é um facto imparável para quase a metade do nosso País) as novas categorias sociais da engenharia do espaço-lixo farám-se irreversíveis. Hoje já podemos comprovar como a guerra é total e implacável. Já nom há espaços de paz e de vida. Todo o nosso território é já um território de conflito, desde os centros urbanos, às periférias das cidades, passando polos cumes das nossas montanhas. É um conflito de dimensões ambientais e sociais relacionado com o processo de mercantilizaçom total, de depressom comunitária, desposessom e desarticulaçom territorial, que está provocando profundas e irreversíveis transformações funcionais dos nossos espaços.
As intervenções do sistema capitalista espanhol sobre a nossa Terra som intervenções planificadas e desestruturadoras, trata-se de actos de violência sistemática. Esta violência exercita-se sobre o nosso espaço e a nossa sociedade fundamentalmente em forma de projectos de infraestruturas de diverso tipo. Infraestruturas relacionadas com a rapidez e capacidade dos fluxos de informaçom e a mobilidade pessoal como som as infraestruturas de transporte: estradas, autovias, auto-estradas e comboios de alta velocidade; infraestruturas energéticas: centrais hidroeléctricas, térmicas e incineradoras, parques eólicos, espólio de matérias primas; infraestruturas da turistificaçom e do tempo morto do lezer-consumo: passeios marítimos, portos desportivos-vip, áreas recriativas, parques e redes naturais; parques residenciais; concentrações parcelárias; controlo e depredaçom florestal: monocultivos, celuloses, incêndios...
Esta guerra total conta, aliás, com toda umha panóplia de novos conceitos, de novas sugestões, que som, dalgum jeito, o aduvo necessário para os novos consensos ideológicos e sociais: desenvolvimento sustentável, horizontalidade das políticas ambientais, internalizaçom dos custos ecológicos, progresso... Estas novas figuras de reflexom teórico-filosófica e positivadoras da relaçom de valor devem pôr em consonância dinheiro e natureza sobre o pano de fundo de um mercado global pautado pola “eficiência económica” e polo “desafio ecológico”.
Nom somos turistas na nossa própria Terra. Nom consumimos paisagem. Porque nunca se consume o que forma parte da identidade própria. Só se consumem as “cousas”, o que está fora e é exterior. O chão que pisamos nom se compra nem se vende. Nom tém valor de troca. As nossas montanhas, a nossa paisagem nom som “cousas”, nom som “mercadoria”; som Terra, som Pátria, som País. País e paisagem tenhem a mesma raiz etimológica (do latim “pagus”: baliza ou marco metido na terra). De “pagus”, um recanto rural limitado por esteios, derivou “pagensis”, a ideia de um recorte ou espaço de território que se abrange num lance de vista. “Pagensis” evoluiu para “país” e daí “paisagem”. “O processo de construçom nacional é um processo de territorializaçom da história e de historicidade do território que se plasma visual -e simbolicamente- na paisagem.
Paisagem som percepções, vivências sensíveis, emoções, sensações e experiências, é realidade ecológica e social, é memória histórica reflectida ao longo dos tempos. Economia moderna (dinheiro) é, pola contra, abstracçom social (abstracçom geralizada e “real” da forma do valor) porque abstrai e destrui a referência ao mundo sensível e viola a existência de qualquer referência de conteúdos ou qualidade própria. Fazer valer as abstracções no mundo real signifia destruir a realidade, a negaçom brutal de todo o mundo somatos-sensorial e social. Nengumha propriedade jurídica pode separar aos galegos e galegas da sua terra, dos seus recursos naturais, já seja a propriedade de um Estado, de umha instituiçom pública ou a propriedade de um particular. O poder histórico dos galegos e galegas sobre a terra nom é nengum poder abstracto jurídico-polítio, é um poder de posessom, de controlo, de auto-administraçom comunal. Este poder é inegociável e irrenunciável.
Os cruzados do iluminismo (de toda cor e pelagem) , abraçados à roda de umha metafísica secularizada sinalam o patíbulo para os fundamentalistas: os “Senhores da Terra” (aristócratas das essências, devotos dos ícones telúricos). Que legitimidade tenhem os eunucos do chapapote para condenar a nossa relaçom sensível e identitária com a Terra? Eles, que se autoflagelam nos ícones e ídolos mais abstractos do iluminismo, que veneram santos laicos, que levantam teogonias, iconografias e hagiografias, que se escravizam a milheiros de vinculações simbólicas exteriorizadas substraídas à reflexom, a universalidades abstractas (como a economia e o dinheiro) e ao fetichismo da democracia política de massas , que se aferram a cláusulas meta-lingüísticas, que construírom sujeitos históricos colectivo-metafísicos, que ontologizárom as formas próprias de socializaçom (capitalista) e os seus conceitos básicos, que convertêrom o tempo e a história numha paisagem lunar de monocoltivo intensivo, que “naturalizárom” as construções históricas da modernidade e as categorias ideológicas de legitimiaçom... Eles, que se arrastam por umha nova pseudo-natureza esterilizada e automatizada de desing-cyborg?
A geografia, a paisagem, a Terra, pode ser, sem dúvida, um ideologema nacionalitário, mas, se se quer, exactamente ao mesmo nível que operam outros ideologemas específicos ou elementos nacionalitários como a História ou a língua. Todos eles, formulados e convertidos em elementos nacionalitários por parte da intelectualidade nacionalista, permitírom fundamentar a existência da naçom, explicitar o processo de construçom nacional, assim como o complexo simbólico que define umha identidade diferenciada. Que pode haver de espúrio no valor simbólico-identitário da Terra e da paisagem ou, se se quer, na sua “sobredeterminaçom” ideológica ligada ao projecto nacionalista? Exactamente a mesma “adulteraçom” da utilizaçom da História como valor ideológico fundamental, submetida, sempre, a um processo selectivo-configurador, mais ou menos ideológico, por parte dos historiadores. Há um nacionalismo “geográfico” (como necessidade de descoberta e reapropriaçom do espaço) na mesma medida que há um nacionalismo “lingüístico” ou um nacionalismo “histórico”, nem mais nem menos.
O tratamento da paisagem como referente identitário reproduziu-se em todas as nações emergentes. Autores de muito diversas latitudes, imersos num processo político-cultural de construçom nacional tenhem feito do tema da paisagem um factor de criaçom de consciência nacional. Agora mesmo é um fenómeno recorrente nas literaturas produzidas na África.
A paisagem, concebida como bem colectivo da naçom e elemento importantíssimo dentro do património identitário, também tivo na Galiza grande importância em toda a produçom do ressurgimento nacional e foi relevante para os momentos fundacionais da literatura nacional galega, onde a paisagem é a forma mais visível de dizer a naçom, a pátria, o país. Rosalia de Castro, máximo exponhente do ressurgimento cultural galego, escreve no prólogo de Cantares Gallegos (1863):
(...) falsidade com que fóra de aqui pintam os filhos de Galiza como a Galiza mesma, a quem geralmente julgam o mais despreciável e feio de Espanha, quando acaso seja o mais fermoso e digno de gavança.
(...) Eu que atravessei repetidas vezes aquelas soidades de Castela que dam ideia do deserto; eu que percorrim a feraz Estremadura e a extensa Mancha, onde o sol cai a promo alomeando monótonos campos onde a cor da palha seca empresta um tom cansado à paisagem que rende e entristece o espírito, sem umha ervinha que distraia a mirada que vai perder-se num céu sem nuvens, tam igual e tam cansado como a terra que cobre; eu que visitei os celebrados arredores de Alicante, onde as oliveiras com o seu verde escuro, sementadas em fila e de raro em raro, parecem chorar de ver-se tam solitários, e vim aquela famosa horta de Múrcia, tam nomeada e tam alabada, e que, cansada e monótona como o resto daquel país, amostra a sua vegetaçom tal como paisagens pintados num cartom com árvores postas simetricamente e em carreirinhos para diversom dos nenos, eu nom podo menos de indignar-me quando os filhos dessas províncias que Dios favoreceu em fartura, mas nom na beleza dos campos, burlam-se desta Galiza competidora em clima e galanura com os países encantadores da terra, esta Galiza, onde todo é espontáneo na natureza e onde a mao do home cede o seu posto à mão de Deus.
(...) A terra coberta em todas as estações de ervinhas e de flores, os montes cheios de pinheiros, de carvalhos e salgueiros, os ligeiros ventos que passam, as fontes e os torrentes derramando-se fervedores e cristaínhos, Verão e Inverno já polos risonhos campos já em profundas e sombrisas ondanadas... Galiza é sempre um jardim onde se respiram aromas puros, frescura e poesia... e apesar disto chega a fatuidade dos ignorantes, a tanto a indigna preocupaçom que contra a nossa terra existe, que ainda os mesmos que puidêrom contemplar tanta fermosura (já nom falamos dos que se burlam de nós sem que jamais nos tenham visto nem ainda de longe, que som os mais), ainda os que penetrárom na Galiza e gozárom das delícias que oferece atrevêrom-se a dizer que Galiza era... Um cortelho imundo!! E estes eram quiçá filhos daquelas terras abrasadas de onde até os passarinhos fogem! Que diremos a isto? Nada mais senom que tais fatuidades a respeito do nosso País tenhem algumha comparança com a dos franceses ao falarem das suas eternas vitórias ganhadas aos espanhóis.
(...) Moito sinto as injustiças com que nos favorecem os franceses, mas neste momento quase lhes estou agradecida, pois que me proporcionam um meio de fazer-lhe mais palpável a Espanha a injustiça que ela à sua vez connosco comete (...).
Rosalia, Murguia, Pondal, Viqueira, Risco, Castelao, Otero Pedraio, Ugio Novoneira ..., todos eles aludem, em maior ou menor medida, à paisagem cultural galega como elemento de identidade nacional. Foi Castelao quem pronunciou aquela célebre e definitória frase: Para nós a Pátria é um sentimento natural, inspira-se em realidades sensíveis aos cinco sentidos. A Pátria é a Terra. O nacionalismo geográfico, a paisagem concebida como bem colectiva da naçom e como elemento importantíssimo dentro do património identitário tivo em Otero Pedraio, nacionalista e geógrafo, o seu precursor e máximo exponhente (a obra de Carme Fernández Pérez-Sanjuliám, A construción nacional no discurso de Ramón Otero Pedraio, achega reflexões muito interessantes) . Otero foi o primeiro intérprete da forma física da Galiza, concebendo-a e explicando-a através dos seus estudos geográficos, como umha unidade independente, com pessoalidade própria dentro da geografia peninsular. Interpretando, pois, a geografia e a história da Galiza, Otero Pedraio tem alçado um modelo da Galiza que fijo antiquado o velho modelo decimonónico, entre folcórico e mítico, construído polos precursores.
Otero mantém esta postura de reivindicaçom activa do estudo e descoberta física do País, ainda, depois da guerra. Ricardo Gurriarám lembra-nos o apoio de Otero à criaçom do clube de montanhismo Pena Trevinca Montanheiros de Galiza, actividade que cumpre pôr em relaçom nom só com os movimentos excursionistas, senom, e moi especialmente, com a singular funçom que nestes primeiros anos da posguerra exerciam este tipo de movimentos associativos. Ricardo Gurriarám explica-o assim: Fora umha actividade solidária de dom Ramom com o societarismo montanheiro para-oficial na que confluíam: amor à natureza e a paisagem galega, divulgaçom das riquezas ocultas, potenciamento do associacionismo “resistente” com o fim de aglutinar adessões, revitalizaçom das actividades desportivas montanheiras, em definitiva, ajudar ao desenvolvimento de foros, até certo ponto críticos, que giravam em torno a centros de interesse “modernos”, neste caso: o fomento do associacionismo montanheiro fora do marco ideologizado que imperava na época. Gurriarám engade que logo da intervençom de Otero Pedraio no ano 1.949, entre outras, o clube de montanha chegaria a sobrepassar a cifra dos 2.000 associados, umha quantidade significativa no associacionismo desportivo de âmbito galego que, agás nos clubes de futebol, nom atopamos outra com semelhante impacto afiliativo.
No caso de Otero Pedraio concita-se a mesma imagem reducionista, confusa e cheia de preconceitos que já acontecera com Castelao, Rosalia e outros escritores, políticos e intelectuais nacionalistas, numha sistemática deturpaçom da sua significaçom ideológica. O Castelao humorista ou a Rosalia Chorona estám à mesma altura que o Otero lírico-romântico, esteticista, irracionalista e idealista-simbólico. A maior parte dos estudos sobre Otero Pedraio som interpretações isoladas e iludem a relaçom entre paisagem e a ideia de naçom. Tem-se feito, como se tém feito com outros e outras escritores e escritoras nacionalistas, umha leitura reduzionista da sua obra ao centrar a interpretaçom no aspecto histórico da sua narrativa ou nos elementos culturais, deixando de lado os conteúdos mais essencialmente ideológicos.
Os e as nacionalistas galegos do Seminário de Estudos Galegos, dos Ultreias, da Coordenadora Galega de Roteiros ou da Agrupaçom de Montanha ‘Águas Limpas’ botamo-nos a andar polo País adiante para sentir, conhecer e defender a nossa Terra. Porque, como diria Otero Pedraio para conhecer um País há que andá-lo a pé.
O facto de que alguns galegos percorram a sua terra a pé e andando é merecente de ter um posto entre os feitos denotativos da nossa renascença. Estas palavras de Vicente Risco cobram hoje um significado muito especial. Botar-se hoje a andar, desafiando aos eunucos do chapapote, ao progresso do capitalismo automobilístico e aos depredadores da nossa terra, volve a ser, mais que nunca, um acto de rebeldia e de renascimento nacional.
O 6 DE DEZEMBRO TOD@S A VIGO
O 6 de Dezembro será contestado polo soberanismo galego na cidade de Vigo com umha manifestaçom nacional convocada por Causa Galiza. Será a segunda vez que a entidade autodeterminista sairá à rua no presente ano em favor dos nossos direitos nacionais. No passado dia da Pátria, o corpo social articulado em Causa Galiza logrou juntar em Compostela as reivindicaçons nacionais da mao de um grosso número de participantes. Desta volta a marcha, que partirá desde a Via Norte de Vigo às 12h30 levará a legenda Pola autodeterminaçom, nom à constituiçom espanhola e centrará a sua denúncia no papel colonial que Galiza joga no marco da constituiçom espanhola.
Reproduzimos na íntegra o manifesto tirado do prelo para a convocatória:
O movimento polos direitos nacionais galegos precisa de se rearticular e rearmar. A chamada 'correcçom política' tem expulsado o exercício dos direitos colectivos fora do quadro jurídico-político, fora da actualidade do debate social, e fora dos meios de comunicaçom de massas. Os grandes poderes económicos e políticos actuantes na Galiza seguem na posiçom de sempre: som inimigos da soberania galega, porque a decisom do nosso povo sobre os seus destinos colectivos poderia barrar os seus planos da desfeita: privatizaçom do território, turistificaçom, restriçom de direitos dos trabalhadores e economia do tijolo.
Na actualidade, a grande imprensa empresarial é umha portavozia obediente dos conglomerados industriais, as promotoras e as transnacionais da energia.
Todos os partidos institucionais, sem excepçom, também estám interessados em marginalizar a exigência autodeterminista: vivem em exclusiva para gerirem um modelo territorial e socioeconómico que consideram indiscutível, exprimindo os seus máximos lucros para manter os profissionais da política. A galeguidade nom é para eles a defesa de umha identidade agredida e/ou de um projecto de poder popular, mas um verniz sentimental para consolidar os seus postos e condimentar os seus negócios. Sob o governo destas estruturas incontestadas, oficializa-se o mercadeio e a imagem, a cousa pública eleva-se a dedicaçom privada, expande-se o jogo de favores e a gestom da miséria, e a crítica radical risca-se de inoportuna e molesta. Nunca na nossa história a palavra 'política' estivo tam deslegitimada, e nunca foi tam preciso revitalizar, no trabalho e na rua, o sentido emancipador da causa galega. Se nom for assim, perante um panorama generalizado de agressom sem resposta, as maiorias sociais instalarám-se de vez na desídia.
O espanholismo, através dos seus dous grandes partidos, nom abandona jamais a sua soberba. Reafirma-se na sua trincheira constitucional e, de boca grande, di às naçons nom espanholas da Península que nom cede no seu direito de conquista: o monarca nom se pode questionar; a autodeterminaçom e ilegal e mesmo toda reforma estatutária passa finalmente pola peneira de Madrid; os tribunais de excepçom mantenhem-se activos, e @s independentistas som julgad@s pola audiência nacional, ao ditado do executivo e das suas conveniências conjunturais. Em contraposiçom, os autonomistas e nacionalistas mornos falam de boca pequena, tatejam reivindicaçons mínimas, e pedem um bocado de tacto na sua procura de quota eleitoral. Mas já passou a etapa das concessons aparentes, e a hispanidade 'plural' do governo de hoje converge, no fundo, com o modelo que a extrema-direita vem promocionando.
Causa Galiza rejeita a constituiçom espanhola de 78, surgida da reforma do regime franquista, que é o quadro jurídico, político e administrativo para a opressom da Galiza, a exploraçom da classe trabalhadora e a, que proíbe expressamente o exercício do direito de autodeterminaçom e é garante da “unidade de Espanha”.
Causa Galiza considera que a reivindicaçom do direito de autodeterminaçom virá da mao da luita do povo trabalhador de unha óptica de esquerda, assim pretendemos que a reivindicaçom autodeterminista alcance maior profundidade e dimensom; para isso tem que ligar-se com tantos conflitos parciais que se livram no País e chamamos a participar na manifestaçom do 6D às organizaçons sociais, políticas e sindicais que defendem o direito de um povo a decidir.
Causa Galiza insiste em pôr de novo a reinvidicaçom elementar da soberania galega, sem ceder nem um milímetro na exigência de autodeterminaçom como única garantia democrática face à imposiçom constitucional. Neste dia da Constituiçom espanhola, queremos insistir na vigência da nossa luita, somando-nos a todos aqueles e aquelas que exercem os seus direitos dia a dia, luitando contra as agressons imperialistas, sem renunciarmos à rua como cenário fundamental de acçom social e política.
Esta iniciativa quer contribuir para erguer um espaço pola soberania plena que dê eco às luitas que articulam à gente autoorganizada em todos os campos da vida.
Na Galiza, 6 de Dezembro de 2007
O 6 de Dezembro será contestado polo soberanismo galego na cidade de Vigo com umha manifestaçom nacional convocada por Causa Galiza. Será a segunda vez que a entidade autodeterminista sairá à rua no presente ano em favor dos nossos direitos nacionais. No passado dia da Pátria, o corpo social articulado em Causa Galiza logrou juntar em Compostela as reivindicaçons nacionais da mao de um grosso número de participantes. Desta volta a marcha, que partirá desde a Via Norte de Vigo às 12h30 levará a legenda Pola autodeterminaçom, nom à constituiçom espanhola e centrará a sua denúncia no papel colonial que Galiza joga no marco da constituiçom espanhola.
Reproduzimos na íntegra o manifesto tirado do prelo para a convocatória:
O movimento polos direitos nacionais galegos precisa de se rearticular e rearmar. A chamada 'correcçom política' tem expulsado o exercício dos direitos colectivos fora do quadro jurídico-político, fora da actualidade do debate social, e fora dos meios de comunicaçom de massas. Os grandes poderes económicos e políticos actuantes na Galiza seguem na posiçom de sempre: som inimigos da soberania galega, porque a decisom do nosso povo sobre os seus destinos colectivos poderia barrar os seus planos da desfeita: privatizaçom do território, turistificaçom, restriçom de direitos dos trabalhadores e economia do tijolo.
Na actualidade, a grande imprensa empresarial é umha portavozia obediente dos conglomerados industriais, as promotoras e as transnacionais da energia.
Todos os partidos institucionais, sem excepçom, também estám interessados em marginalizar a exigência autodeterminista: vivem em exclusiva para gerirem um modelo territorial e socioeconómico que consideram indiscutível, exprimindo os seus máximos lucros para manter os profissionais da política. A galeguidade nom é para eles a defesa de umha identidade agredida e/ou de um projecto de poder popular, mas um verniz sentimental para consolidar os seus postos e condimentar os seus negócios. Sob o governo destas estruturas incontestadas, oficializa-se o mercadeio e a imagem, a cousa pública eleva-se a dedicaçom privada, expande-se o jogo de favores e a gestom da miséria, e a crítica radical risca-se de inoportuna e molesta. Nunca na nossa história a palavra 'política' estivo tam deslegitimada, e nunca foi tam preciso revitalizar, no trabalho e na rua, o sentido emancipador da causa galega. Se nom for assim, perante um panorama generalizado de agressom sem resposta, as maiorias sociais instalarám-se de vez na desídia.
O espanholismo, através dos seus dous grandes partidos, nom abandona jamais a sua soberba. Reafirma-se na sua trincheira constitucional e, de boca grande, di às naçons nom espanholas da Península que nom cede no seu direito de conquista: o monarca nom se pode questionar; a autodeterminaçom e ilegal e mesmo toda reforma estatutária passa finalmente pola peneira de Madrid; os tribunais de excepçom mantenhem-se activos, e @s independentistas som julgad@s pola audiência nacional, ao ditado do executivo e das suas conveniências conjunturais. Em contraposiçom, os autonomistas e nacionalistas mornos falam de boca pequena, tatejam reivindicaçons mínimas, e pedem um bocado de tacto na sua procura de quota eleitoral. Mas já passou a etapa das concessons aparentes, e a hispanidade 'plural' do governo de hoje converge, no fundo, com o modelo que a extrema-direita vem promocionando.
Causa Galiza rejeita a constituiçom espanhola de 78, surgida da reforma do regime franquista, que é o quadro jurídico, político e administrativo para a opressom da Galiza, a exploraçom da classe trabalhadora e a, que proíbe expressamente o exercício do direito de autodeterminaçom e é garante da “unidade de Espanha”.
Causa Galiza considera que a reivindicaçom do direito de autodeterminaçom virá da mao da luita do povo trabalhador de unha óptica de esquerda, assim pretendemos que a reivindicaçom autodeterminista alcance maior profundidade e dimensom; para isso tem que ligar-se com tantos conflitos parciais que se livram no País e chamamos a participar na manifestaçom do 6D às organizaçons sociais, políticas e sindicais que defendem o direito de um povo a decidir.
Causa Galiza insiste em pôr de novo a reinvidicaçom elementar da soberania galega, sem ceder nem um milímetro na exigência de autodeterminaçom como única garantia democrática face à imposiçom constitucional. Neste dia da Constituiçom espanhola, queremos insistir na vigência da nossa luita, somando-nos a todos aqueles e aquelas que exercem os seus direitos dia a dia, luitando contra as agressons imperialistas, sem renunciarmos à rua como cenário fundamental de acçom social e política.
Esta iniciativa quer contribuir para erguer um espaço pola soberania plena que dê eco às luitas que articulam à gente autoorganizada em todos os campos da vida.
Na Galiza, 6 de Dezembro de 2007
Panfleto para o roteiro reibindicativo em contra do parque eólico da serra da Groba
NOM AO PARQUE EÓLICO NA SERRA DA GROBA
De se construir, estragará boa parte da riqueza arqueológica e meio-ambiental da Serra da Groba. Nom vamos permitir que se construa o parque eólico na Serra da Groba por que:
• O beneficio real dos proprietários e usuários do monte (pessoas e animais) vai ser ínfimo em comparaçom com o benefício tirado por gente alheia ao uso e domínio da terra ao longo dos séculos. Quem nunca se preocupou por ela nem tem mais interesse do que o temporal (enquanto os benefícios durarem) vam tirar umha grande vantagem. No entanto, estam a perder-se para sempre valores ecológicos irrecuperáveis, que só se construíram depois de milhons de anos.
• A implantaçom da energia eólica na Galiza só se explica polo crescimento das cifras macroeconômicas que leva implícito o capitalismo já que nom se esta a utilizar como substitutoria às nom renovábeis. O Plan eólico de Galicia nom está feito para as energias renováveis serem alternativas ás nom renováveis. Enquanto se construem parques eólicos estragando os montes nom se desmantelam as térmicas nem se deixan de construir minicentrais. Polo tanto, a energia eólica na Galiza nom é umha energia alternativa.
• Estas construçons nom som necesarias já que a Galiza exporta o 40% da electricidade que produz. Os mais favorecidos som os interesses de lucro das empresas privadas (Iberdrola, Fenosa, Acciona, etc) e do governo espanhol. Os parques eólico na Galiza som a consequência da submissom do nosso pais como umha colónia ao serviço dos interesses energéticos de crescimento do capitalismo espanhol.
O parque eólico da serra da Grova:
• É consequência da submissom do Val Minhor e da Galiza aos interesses de umha empresa privada. Neste caso a empresa promotora é EUROVENTO com 50% de capital espanhol (Acciona) e 50% de capital Japonês.
• Este parque ocuparia permanentemente umha superfície equivalente ao 37% de Vigo, a cidade mais grande da Galiza, afectaria permanentemente a umha superfície equivalente ao 70% da mesma e teria competência sobre um espaço igual a 1,9 vezes essa cidade.
• Só no espaço correspondente ao Concelho de Oia há 270 restos arqueológicos, entre os catalogados e aqueles que estám em processo de catalogaçom. Boa parte seriam destruídos com a construçom do parque.
A sustentabilidade que requer a humanidade nom é possível dentro do sistema económico capitalista que requer o crescimento perpétuo já que a natureza, os ecosistemas e os seus recursos som irrecuperáveis. É principalmente por este motivo polo que nos, os ecologistas, declaramo-nos contrários à economia de mercado própria do capitalismo.
GALIZA NOM É UMHA COLÓNIA SUBMETIDA AOS INTERESSES DO CRESCIMENTO E LUCRO DO CAPITALISMO ESPANHOL
POLAS ENERGIAS ALTERNATIVAS, POR UMHA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL, NOM AOS PARQUES EÓLICOS DA IDEOLOGIA DO CRESCIMENTO: NOM AO PARQUE EÓLICO NA SERRA DA GROVA!!!
AVANTE A RESISTÊNCIA CONTRA ESPANHA E O CAPITAL
De se construir, estragará boa parte da riqueza arqueológica e meio-ambiental da Serra da Groba. Nom vamos permitir que se construa o parque eólico na Serra da Groba por que:
• O beneficio real dos proprietários e usuários do monte (pessoas e animais) vai ser ínfimo em comparaçom com o benefício tirado por gente alheia ao uso e domínio da terra ao longo dos séculos. Quem nunca se preocupou por ela nem tem mais interesse do que o temporal (enquanto os benefícios durarem) vam tirar umha grande vantagem. No entanto, estam a perder-se para sempre valores ecológicos irrecuperáveis, que só se construíram depois de milhons de anos.
• A implantaçom da energia eólica na Galiza só se explica polo crescimento das cifras macroeconômicas que leva implícito o capitalismo já que nom se esta a utilizar como substitutoria às nom renovábeis. O Plan eólico de Galicia nom está feito para as energias renováveis serem alternativas ás nom renováveis. Enquanto se construem parques eólicos estragando os montes nom se desmantelam as térmicas nem se deixan de construir minicentrais. Polo tanto, a energia eólica na Galiza nom é umha energia alternativa.
• Estas construçons nom som necesarias já que a Galiza exporta o 40% da electricidade que produz. Os mais favorecidos som os interesses de lucro das empresas privadas (Iberdrola, Fenosa, Acciona, etc) e do governo espanhol. Os parques eólico na Galiza som a consequência da submissom do nosso pais como umha colónia ao serviço dos interesses energéticos de crescimento do capitalismo espanhol.
O parque eólico da serra da Grova:
• É consequência da submissom do Val Minhor e da Galiza aos interesses de umha empresa privada. Neste caso a empresa promotora é EUROVENTO com 50% de capital espanhol (Acciona) e 50% de capital Japonês.
• Este parque ocuparia permanentemente umha superfície equivalente ao 37% de Vigo, a cidade mais grande da Galiza, afectaria permanentemente a umha superfície equivalente ao 70% da mesma e teria competência sobre um espaço igual a 1,9 vezes essa cidade.
• Só no espaço correspondente ao Concelho de Oia há 270 restos arqueológicos, entre os catalogados e aqueles que estám em processo de catalogaçom. Boa parte seriam destruídos com a construçom do parque.
A sustentabilidade que requer a humanidade nom é possível dentro do sistema económico capitalista que requer o crescimento perpétuo já que a natureza, os ecosistemas e os seus recursos som irrecuperáveis. É principalmente por este motivo polo que nos, os ecologistas, declaramo-nos contrários à economia de mercado própria do capitalismo.
GALIZA NOM É UMHA COLÓNIA SUBMETIDA AOS INTERESSES DO CRESCIMENTO E LUCRO DO CAPITALISMO ESPANHOL
POLAS ENERGIAS ALTERNATIVAS, POR UMHA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL, NOM AOS PARQUES EÓLICOS DA IDEOLOGIA DO CRESCIMENTO: NOM AO PARQUE EÓLICO NA SERRA DA GROVA!!!
AVANTE A RESISTÊNCIA CONTRA ESPANHA E O CAPITAL
TOD@S A VIGO O 6 DE DEZEMBRO
O 6 de Dezembro será contestado polo soberanismo galego na cidade de Vigo com umha manifestaçom nacional convocada por Causa Galiza. Será a segunda vez que a entidade autodeterminista sairá à rua no presente ano em favor dos nossos direitos nacionais. No passado dia da Pátria, o corpo social articulado em Causa Galiza logrou juntar em Compostela as reivindicaçons nacionais da mao de um grosso número de participantes. Desta volta a marcha, que partirá desde a Via Norte de Vigo às 12h30 levará a legenda Pola autodeterminaçom, nom à constituiçom espanhola e centrará a sua denúncia no papel colonial que Galiza joga no marco da constituiçom espanhola.
Reproduzimos na íntegra o manifesto tirado do prelo para a convocatória:
O movimento polos direitos nacionais galegos precisa de se rearticular e rearmar. A chamada 'correcçom política' tem expulsado o exercício dos direitos colectivos fora do quadro jurídico-político, fora da actualidade do debate social, e fora dos meios de comunicaçom de massas. Os grandes poderes económicos e políticos actuantes na Galiza seguem na posiçom de sempre: som inimigos da soberania galega, porque a decisom do nosso povo sobre os seus destinos colectivos poderia barrar os seus planos da desfeita: privatizaçom do território, turistificaçom, restriçom de direitos dos trabalhadores e economia do tijolo.
Na actualidade, a grande imprensa empresarial é umha portavozia obediente dos conglomerados industriais, as promotoras e as transnacionais da energia.
Todos os partidos institucionais, sem excepçom, também estám interessados em marginalizar a exigência autodeterminista: vivem em exclusiva para gerirem um modelo territorial e socioeconómico que consideram indiscutível, exprimindo os seus máximos lucros para manter os profissionais da política. A galeguidade nom é para eles a defesa de umha identidade agredida e/ou de um projecto de poder popular, mas um verniz sentimental para consolidar os seus postos e condimentar os seus negócios. Sob o governo destas estruturas incontestadas, oficializa-se o mercadeio e a imagem, a cousa pública eleva-se a dedicaçom privada, expande-se o jogo de favores e a gestom da miséria, e a crítica radical risca-se de inoportuna e molesta. Nunca na nossa história a palavra 'política' estivo tam deslegitimada, e nunca foi tam preciso revitalizar, no trabalho e na rua, o sentido emancipador da causa galega. Se nom for assim, perante um panorama generalizado de agressom sem resposta, as maiorias sociais instalarám-se de vez na desídia.
O espanholismo, através dos seus dous grandes partidos, nom abandona jamais a sua soberba. Reafirma-se na sua trincheira constitucional e, de boca grande, di às naçons nom espanholas da Península que nom cede no seu direito de conquista: o monarca nom se pode questionar; a autodeterminaçom e ilegal e mesmo toda reforma estatutária passa finalmente pola peneira de Madrid; os tribunais de excepçom mantenhem-se activos, e @s independentistas som julgad@s pola audiência nacional, ao ditado do executivo e das suas conveniências conjunturais. Em contraposiçom, os autonomistas e nacionalistas mornos falam de boca pequena, tatejam reivindicaçons mínimas, e pedem um bocado de tacto na sua procura de quota eleitoral. Mas já passou a etapa das concessons aparentes, e a hispanidade 'plural' do governo de hoje converge, no fundo, com o modelo que a extrema-direita vem promocionando.
Causa Galiza rejeita a constituiçom espanhola de 78, surgida da reforma do regime franquista, que é o quadro jurídico, político e administrativo para a opressom da Galiza, a exploraçom da classe trabalhadora e a, que proíbe expressamente o exercício do direito de autodeterminaçom e é garante da “unidade de Espanha”.
Causa Galiza considera que a reivindicaçom do direito de autodeterminaçom virá da mao da luita do povo trabalhador de unha óptica de esquerda, assim pretendemos que a reivindicaçom autodeterminista alcance maior profundidade e dimensom; para isso tem que ligar-se com tantos conflitos parciais que se livram no País e chamamos a participar na manifestaçom do 6D às organizaçons sociais, políticas e sindicais que defendem o direito de um povo a decidir.
Causa Galiza insiste em pôr de novo a reinvidicaçom elementar da soberania galega, sem ceder nem um milímetro na exigência de autodeterminaçom como única garantia democrática face à imposiçom constitucional. Neste dia da Constituiçom espanhola, queremos insistir na vigência da nossa luita, somando-nos a todos aqueles e aquelas que exercem os seus direitos dia a dia, luitando contra as agressons imperialistas, sem renunciarmos à rua como cenário fundamental de acçom social e política.
Esta iniciativa quer contribuir para erguer um espaço pola soberania plena que dê eco às luitas que articulam à gente autoorganizada em todos os campos da vida.
Na Galiza, 6 de Dezembro de 2007
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