Tem umha geografia montanhosa e um clima duro, característico dumha terra de transiçom entre a costa atlántica e a Galiza interior. A barreira natural da Serra da Loba é a mais conhecida; o topónimo nom deixa lugar a dúvidas. Existem outras alturas, como a serra do Ranho, que as coplas populares associavam -a inícios do século XX- com a dureza geográfica e as feras. A cantiga recolheu-na Leandro Carré Aldao naquela altura:
Alta serrinha do Ranho
tem muitas silvas e penas
onde o lobo fai cocho
e os bujatos berram nelas
Os cúmios superam os 700 metros na Serra da Loba, descendo até os 250 no Barranco da Loba; esse é o chanço que deixa passo das terras altas das Marinhas à vasta comarca chairega.
No passado, o território de Aranga fazia parte da província de Betanços, umha das sete em que se dividia o Reino da Galiza, disolto polos espanhóis em 1833. Em 1836 tenhem-se as primeiras notícias da constituiçom deste concelho. Compom-se das paróquias de Aranga, Feás, Cambás e Muniferral (a um lado da estrada de Madrid), Fervenças e Vila Raso (ao outro lado da mesma estrada).
A sua condiçom de transiçom geográfica marca o clima de Aranga: chove tanto como na Galiza occidental, mas apresenta umhas temperaturas meias bem mais baixas (uns 10º).
A localizaçom de Aranga fijo do lugar, na Galiza do antigo regime, um autêntico cruzamento de caminhos. Ao contrário do país de hoje, dividido polas infraestruturas espanholas entre oeste-leste (faixa urbana industrial e povoada face deserto rural), a Galiza de onte dividia-se entre norte e sul, em funçom de condiçons climáticas, geográficas, modelos produtivos e modelos de acesso à propriedade, sem que, em rigor, se pudesse falar de áreas de mais densidade urbana do que outras. Por Ponte Aranga passavam quanto menos sete caminhos reais que comunicavam o concelho com Irijoa, Cúrtis, Sobrado dos Monges, Betanços, Pontes de Garcia Rodrigues e Vilalva. A velha Ponte dos Castelhanos era o passo do Caminho Real que unia a Crunha com Lugo.
A repressom fascista
Entre outros muitos capítulos históricos, chegou aos nossos dias com muita viveza a memória da carniceria fascista. A Ponte dos Castelhanos é um lugar de sinistro recordo, pois era a fossa onde os fascistas deitavam muitos passeados, sobretodo nos anos 1936 e 1937. Aproveitando o passo da estrada de Madrid, os passeadores carrejavam muitas vítimas cara este lugar. Alguns cadáveres fôrom logo sepultados na igreja de Sam Lourenço de Vila Raso, pois a guarda civil obrigava a recolher os mortos do poço e a soterrá-los no adro -mas fora de lugar sagrado.
Apesar de ser um concelho relativamente tranquilo nos anos republicanos, com domínio de políticos silenciosos e tépedos, o seu nome logo se vencelhou à dureza dos anos da repressom. Os fascistas da Crunha e da contorna aproveitárom a zona da Costa da Sal para as suas matanças.
Resistência
As condiçons geográficas de Aranga, e as condiçons sociais e políticas do noroeste galego, fixérom desta área um foco importante da guerrilha, nomeadamente quando esta se organiza, baixo direcçom comunista, a partir dos anos 1943 e 1944. A forte presença proletária de Ferrol e Crunha, acompanhada da difícil orografia do Eume e do interior das Marinhas (Messia-Cúrtis-Aranga). Também contou a qualidade humana e militante dos combatentes destinados a estas zonas, como Marcelino Rodríguez Fernández “Marrofer”, Manuel Ponte Pedreira “Jastre”, Benigno Andrade “Foucelhas”. A comarca será a zona de actuaçom da IV Agrupaçom, a mais activa, temida e violenta de todas as forças da guerrilha galega na etapa 44-56.
Também mais adiante, as Marinhas serám a tomba de algum dos mais conhecidos dirigentes.
Marrofer cae numha cilada da guarda civil numha palheira em Milreo, Fervenças, junto com o Lisardo Freixo “Tenente Freixo” e José Doldám. Corria o mês de Junho do ano 46, e lográrom sobreviver cinco guerrilheiros. Quanto a Foucelhas, cai no ano 1952, é descoberto numha covinha no vizinho concelho de Oça dos Rios.
Data e hora do roteiro
Dia 27 de dezembro às 9:30 da manhá diante do concelho de Aranga.
Rota
dificuldade média-baixa, sobre 11 km. de caminhada. Da paróquia de Fervenças, cenário da queda de militantes da IV Agrupaçom, à fossa de Vila Raso.
Recomendaçons
Levar roupa de monte e jantar para o meio dia. Faremos umha cea de convívio num bar do lugar.