Os passados dias 31 de Março e 1 de Abril as montanheiras e montanheiros da agrupaçom caminhamos pola Serra do Larouco, no Sul da Galiza, na comarca da Límia, numha marcha que se adentrou em terras portuguesas, para visitar o Larouco, o "Deus Larouco" como é conhecido na zona, o teito da Serra, que com 1528 m e a terceira altura de Portugal.
A Serra do Larouco é umha formaçom montanhosa que limita ao leste com a Serra do Gerês, da que a separa a Raia Seca, ao nordeste com a Limia, ao Oeste com o Vale de Monterrei e ao Sul co Vale de Monte Alegre, em Trâs-os-Montes. Esta Serra modelada em granitos e basculada pola tectónica tem o seu teito no Sul da Serra, onde no Larouco alcança 1528 metros de altitude. Na Galiza dominam o Bandeiro (1.028), O Arando (1.177), O Farelo (1.397) e O Cereiro (1.264).
A marcha partiu da Agra do Sol, justo na fronteira administrativa entre a Galiza e Portugal, por onde passa o antigo caminho que une Montealegre até Trandeiras, na Limia, um antigo caminho cheio de lendas do estraperlo, à beira do regato de Campelos.
Desde este ponto subimos as faldas do Larouco até o Outeiro do Crego, umha cimeira granítica onde se encontram uns gravados rupestres de temática geométrica, feitos quizá por comunidades camponesas assentadas neste território durante a época prehistórica. Desde este ponto divisamos a paisagem impresionante da fraga da Rousia e aos seus pés a aldeia de Monte Celo.
Seguimos o ascenso até as imediações do parque eólico, umha brutal agressom a estes montes, numha comarca caracterizada polas constantes agressões ambientais, apesar do qual conserva um património natural notável.
Em este ponto a nossa marcha parte em direcçom Sul, ascendendo entre repovoações de pinus radiata, até chegar a umha ampla meseta a umha altitude de 1400 m, que caminhando em direcçom Sul levaranos até o Larouco. Aqui a paisagem de montanha é impresionante. Os solos graníticos deixaram à supercfície grandes penedos transformados pela erosom em autênticas obras de arte, com as formas mais diversas e curiosas. O forte vento do Norte leva as nuves a toda velocidade por riba das nossas cabeças, com a impressom da sua proximidade.
Muito próximas ao "Deus Larouco", decidimos descer a montanha, polas previssões de tempo. Descemos cara o sudeste, salvando um desnivel de mais de 600 m, para fazer noite de acampada nas proximidades da aldeia de Santo André, umha fermosa aldeia de gentes muito amáveis, depois dumha pateada de mais de 7 horas.
O Domingo dia 1, a marcha sairá cara o ponto de partida. Caminhamos cara o Norte, deixando ao Leste a aldeia da Gironda, e começamos a subir nas proximidades do Penedo Redondo cara a cresta da serra. Já no alto (1200 m), divisamos de novo a aldeia de Baltar e começamos o descenso polas pistas florestais das faldas orientais do Larouco, até divisar a aldeia de Monte Celo, momento no que descemos até o vale, seguindo primeiro o percurso do Faramontaos e logo do regato da Rousia, até chegar a fermosa fraga de este nome, onde se encontra a aldeia da Rousia, abandonada a meados do XVII no contexto da guerra pola independência que Portugal travou com sucesso contra a monarquia espanhola. Os restos das antigas casas semelham a primeira vista os vestígios dum castro, que também abundam na comarca. Por este caminho encontraremos muitas testemunhas da mais interesante arquitectura popular, como os muinhos que aproveitam os regos da montanha, fornos comunais, fontes, pontes, petos de ánimas...
A LIMIA
A Serra do Larouco situa-se na comarca da Limia, umha comarca de algo mais de 800 qm2, situada ao Sul da Galiza e habitada por cerca da 24.000 habitantes, cumha populaçom muito envelhecida (50 anos de idade média) em continuo retrocesso devido a um processo migratório que nom cesa. A comarca tem perdido mais de 15.000 habitantes nos últimos 25 anos.
Geograficamente está conformada por umha extensa planície banhada pola bacia do rio homónimo, limitada ao Norte polas encostas da serra de Sam Mamede, ao Sul pola Serra do Larouco e a Serra da Pena. Nesta planície estava a maior lagoa da Península Ibérica, a lagoa da Antela, de 42qm2, que aumentava consideravelmente de tamanho na época da chuva. O valor da fauna desta lagoa era incomparável: dúzias de especies anátidas tinham lá um rico ecosistema dificilmente igualável na Galiza, dada a escasseza deste tipo de conjuntos naturais. A ignoráncia e a cobiça levarom às autoridades fascistas a proceder à sua dessecaçom no ano 1958, obviando a sua riqueza natural e argumentando que as lagoas eram perigosas fontes de epidemias para a populaçom limiá, mas o que escondia este atentado ecológico era um irracional e infrutuoso projecto de exploraçom agrícola desenhado por tecnócratas do régime, totalemnte alheios a realidade económica e social da comarca.
O processo de desecaçom foi de quatro anos, após os quais se começou a produzir batata nas terras que ocupava a antiga lagoa, com um rendimento notavelmente inferior ao esperado, polo qual, já na era Fraga, entre os anos 92 e 98, consumou-se a segunda parte do terrível atentado ecológico. Nestes anos realizarom-se os trabalhos dumha "concentraçom parcelária" brutal, que afectou por volta de 30.000 hectáreas numha comarca na que o espaço florestal ocupava 63% do terreno, e que conseguiu converter aquele paraiso natural num páramo coberto de campos de cultivo, que estám hoje num estado de semi-abandono, já que, paradoxalmente, estes trabalhos de concentraçom coincidírom com o início dumha funda crise no sector da pataca, que hoje esmorece sem remédio. A estruturaçom tradicional das terras, divididas por sebes formadas por vegetaçom de ribeira (salgueiros, amierios e vidoeiros), foi eliminada de raiz, e as massas florestais fórom taladas para ampliar a extensom das terras, motivando a desapariçom do habitat natural de muitas espécies animais. Aliás, vários trechos de rios e riachos fórom canalizados com betom, impedindo a oxigenaçom das águas e o normal desenvolvimento da fauna palustre.
Numerosas associações ambientalistas e colectivos sociais da comarca, unidoa na Plataforma contra a desertificaçom, denunciarom os efeitos sociais e ambientais destas actuações, e o acontecido na Limia foi colocado como efecto paradigmático de contra-reforma agrária. A própria populaçom, apesar das tradicionais manobras do caciquismo identificando progresso com destruiçom, foi consciente das negativas consequências desta política agrária e facilmente podemos escuitar na actualidade os lamentos de lavradores e lavradoras ao serem perguntados polos efeitos da desecaçom e da concentraçom parcelária. Paradoxalmente o abandono das terras que referimos está a ser o factor fulcral na hora de recuperar as antigas florestas, que muito devagar, parecem colonizar de novo as terras perdidas.
Umha outra agressom ambiental pressente na comarca, dis respeito à proliferaçom descontrolada de explorações areeiras que ameaçam as veigas que circundavam a lagoa e que hoje formam pequenas zonas húmidas que acoutam as colónias de aves mais valiosas que ainda se conservam. Destacamos polo seu valor as veigas de Ponte Linhares e as da Sainça e Congostro, na parte meridional da antiga lagoa, e que nom por acaso som das poucas que nom forom afectadas polos trabalhos de concentraçom das terras.
Umha última mençom a outra agressom ambiental diz ao respeito do expólio energético do País, com o que chamam energias "verdes". Com esta ladainha das energias "renováveis" e "limpas", estam-se argumentando terríveis agressões aos nossos montes com parques eólicos que trazem consequências incalculáveis sobre a fauna das montanhas, assim como sobre toda a flora afectada pola apertura de pistas florestais, desvio de mananciais, etc.
O Larouco caracteriza-se por umha rica vegetaçom autóctone na que predominam os carvalhos, rebolos, bidueiros e amieiros nas fragas do vale, e na montanha o monte baixo, de uzes, tojos, giestas e carqueijas. Este é o resultado da acçom do lume durante anos sucesivos, que tem arrassado as partes mais altas da serra, e onde está a ser repovoado maciçamente com pinheiro silvestre e pinus radiata. Também podemos olhar diversas rapinas comuns nas montanhas galegas da metade oriental como o minhato, o açor e, mais escasa, a gata fornela, numha zona onde também abundam o jabali, o teixugo e as doninhas.
RESENHA HISTÓRICA
O COUTO MISTO
Conhecia-se como Couto Misto a um antigo território autonomo que se asentaba entre os actuais concelhos de Calvos de Randim e Baltar. O Couto Misto estava constituído polos lugares actuais de Santiago, Rubiás e Meaus, tendo unha superficie aproximada de 27 qm2. Na actualidade o lugar de Santiago e Rubiás pertencem ao Concelho de Calvos de Randim, mentres o de Meaus pertence a Baltar. A populaçom, en opinión de Madoz no ano 1845, podía cifrarse em 200 vecinhas, equivalentes a uns 800-900 habitantes. Até o Tratado de Lisboa de 1868 cada vecinh@ elegia livremente a nacionalidade espanhola ou portuguesa.
Aínda que historicamente nom existem documentos que acreditem a origem da instituiçom, sabe-se que o Couto nasceu ligado ao Castelo da Piconha, vencelhado co tempo à Casa de Bragança, na Baixa Idade Media (século XII). Em 1518, por causa dos enfrontamentos entre as gentes de Barroso e Randim, os habitantes do Couto procurarom apoio no Conde de Lemos, que se mantería até o fin do Couto.
En 1819 asinou-se, no adro da Igrexa de Santiago, un documento no que se reconheciam os privilegios do Couto e se ligava à Casa de Bragança e á diócese de Ourense. En 1851 formou-se a Comissom Mista que tería que dirimir os limites entre os dous estados. En 1864 asina-se o Tratado de Límites e Espanha entrega a Portugal os tres Pobos Promíscuos (Soutelinho da Raia, Lama de Arcos e Tourém) a cambio dos que constituiam o Couto Misto. Na acta final de fixaçom de fronteira, assinada en 1906, recoñécense terreos de pasto misto, entre os marcos 130 e 137, de aproveitamento comum.
Entre os direitos e privilegios máis representativos sinálam-se o de asilo (para os fugidos da justiça hispana e lusa), o de nom dar soldados, a isençom de impostos, a liberdade de comercio, (como o sal, produto estanco ata 1868), liberdade de cultivos como o tabaco e outros mais. Para exercitar ditos privilegios, no tocante ó comercial, dispunham dum caminho imune a acçom dos guardas da fronteira. Este caminho comunicava o Couto coa vila portuguesa de Tourém, atravesando terras galegas de Randim num percorrido duns seis quilómetros.
A originalidade deste enclave foi a de manter a súa propia organización, desvencellada das coroas portuguesa e española, e danos umha ideia da arbitrariedade da fronteira estabelecida entre os estados espanhol e português.
A GUERRILHA ANTIFRANQUISTA
A Guerrilha antifranquista foi muito numerosa e activa nas terras da raia seca, contando com a solidariedade e o apoio das e dos habitantes do outro lado da raia. Umha destas demonstrações de irmandade foi a solidariedade das habitantes de Cambedo, que desembocará numha batalha.
Entre os dias 20 e 22 de Dezembro de 1946 a aldeia de Cambedo, antigo povo promíscuo pertencente a Chaves e vizinho de Oimbra, foi submetida a um terrível assédio por parte de efectivos armados portugueses e espanhóis com a intencionalidade de apressar três guerrilheiros galegos que se refugiavam na aldeia. Tratava-se do capitão García, de Juan e de Demetrio. Juan, homem querido na zona e idealizado depois da sua morte, morre no assalto. O capitão García, suicida-se. Demetrio é capturado e julgado por um Tribunal Militar Português, sendo preso no cárcere de Tarrafal (Cabo Verde e Lisboa) até que é libertado em 1965, marchando à França, onde morre. Numerosos vizinhos desta pequena aldeia conhecerão presídio por ter acolhido os seus vizinhos galegos, lutadores antifascistas, sem que houvesse no seu acto uma intencionalidade ideológica. Somentes eram solidários com aqueles que sofriam a sem-razão da repressão fascista