15 de janeiro de 2008
Roteiro pola serra mais nortenha da Galiza: o Gistral
Roteiro pola serra mais nortenha da Galiza: o Gistral
No 12 de Janeiro, a Agrupaçom de Montanha estreou o novo ano caminhando as nossas serras mais setentrionais: o Gistral. Partindo de manhá do concelho de Abadim e rematando à tardinha. O centro social Mádia Leva organizou umha ceia para montanheiras e montanheiros.
Este cordal é o núcleo dum maciço de montanhas que arredam a Terra Cha do Cantábrico; do Gistral irradiam sistemas menores, como a Toxiza (cara Mondonhedo), a Carba (cara o oeste) e os montes do Buio e de Cavaleiros (mais cercanos ao mar). A serra atinge os concelhos das Pontes, Abadim, Alfoz, Mondonhedo, Muras, Ourol, Valadouro, Vilalva, Jove, Germade, Viveiro e Cervo.
Os rios do Gistral deitam a sua água no rio Eume, no rio Sor, no rio Minho e directamente no mar Cantábrico: é o caso dos rios Landro, Ouro e Masma.
É umha serra de altura média, por volta dos 700 metros, onde bate o vento permanentemente. O seu cúmio mais alto é o conhecido como Cadramom, que alcança os 1046 metros. De toda a Galiza, é a parte que menos horas de sol recebe ao longo do ano. Coberta de névoas mui frequentes, está inçada de turbeiras mui extensas, mui deterioradas em tempos recentes pola pressom dos parques eólicos. A despopulaçom é a nota dominante. Veremos mui poucas aldeias, e apenas nos encontraremos com gado ceivo.
É umha dessas zonas que os políticos chamam 'lugar de interesse comunitário' (LIC). Que significa isto? Que há toleráncia para estragá-lo. A desfeita mais recente corre a cargo de 'Endesa Cogeneración y Renovables' e de Fergo Galicia Vento, S.L (que gere a evacuaçom da energia) na Toxiza, em Mondonhedo, com a ajuda da conselharia do BNG. Pistas, electrificaçom, subestaçons, para estragar as turbeiras e aproveitar mais energia destinada a Espanha e ao esbanjamento.
Flora e fauna.
Do rico património natural desta serra, queremos salientar as espécies endémicas: na flora, vários tipos de uceiras, bosques aluviais de amieiros, freixos de rio e bosques de acivro; na fauna, a conhecida lagartija das branhas, que se desenvove na humidade das turbeiras, e tem no Gistral o seu limite mais ocidental. Também é das poucas áreas do nosso país onde se sobrevive o gato bravo. O lobo também campa por estes cúmios. As aves próprias de zonas abertas som também visíveis: a curuja das junqueiras ou as tartaranhas.
Tradiçom e história.
Chegárom até nós lendas de tradiçom oral que nos falam dumha natureza humanizada, e transmitem-nos a reverenciosidade que a vizinhança destas paróquias tinha polas terras avesias da montanha. No lugar da Moladoira, na paróquia do Pereiro (Alfoz), há um penedo de granito oval pousado sobre outro. Abana sem chegar nunca a cair. A tradiçom diz que tivo umha 'bicha' (serpe gigante) gravada. Sobre a pedra deitavam-se as parelhas com problemas de fertilidade, as maes que nom davam alimentado os filhos, ou as moças sem filhos. Diz-se também que se utilizou para fazer juízos de verdade, 'provas de Deus', que verificavam a culpa ou a inocência dos delitos. Chama-se ainda hoje Pena Abaladoira. A vizinhança também rendia culto à chamada 'Pena da Cobra', situada em Alfoz. Representava-se-lhe à gente a cabeça petrificada dum animal que, segundo a lenda, fora transformado em pedra pola acçom salvadora dum santo.
Os testemunhos da gente da zona também dam prova da crença nos encantos, mulheres míticas que andavam nas fontes onde nasciam os rios, e dos mouros, que vigilavam os monumentos funerários. No Gistral eram conhecidos como 'Pagainhos', e sobrevivérom apesar da imposiçom secular do cristianismo.
Celtismo.
A serra do Gistral situa-se na Galiza que, de maneira consensuada, todos os historiadores assinalam como céltica: a chamada 'diócese de Britonia'. Aparece citada no paroquial suevo (572-573) como a 'sede dos bretons'. A diócese cita-se aliás em concílios como o de Toledo e do Braga, até o século VII. A que nós conhecemos como diócese de Mondonhedo é herdeira da britoniense. Sabe-se que foi fundada por bretons insulares, encabeçados polo bispo Maeloc, que fugiam das invasons saxonas entre os séculos IV e VII. A esta zona da Galiza achegam a sua peculiar organizaçom eclesiástica.
História recente.
Falando da história mais recente do nosso país, temos que vencelhar o Gistral à figura de Luis Trigo Chaos, 'Guardarrios'. O alcume recebeu-no da sua profissom, e por culpa do seu compromisso socialista tivo que botar-se ao monte na guerra de 36, e sobreviver como fugido. Artelha a sua base de operaçons na zona oeste de Mondonhedo e nos concelhos de Alfoz, Muras, Ferreira ou Abadim, onde sobrevive sem enquadres organizativos rígidos, e com a ajuda do seu lugartenente, Venáncio Seoane, 'Pasoslargos'. Era filho de lavradores e, como tantos galegos, deixa a sua paróquia, Sam Pantaleom de Cabanas, para emigrar a Cuba e Bos Aires. Homem carismático, estava mui bem relacionado com a direita local. Era membro da Agrupaçom Socialista de Mondonhedo em 1936, quando tinha já 47 anos.
Viviu doze anos de fugido sem sair da sua comarca, longe de disciplinas partidárias e enfrentado com a dirigência do 'Ejército Guerrillero', o que o fai um caso extraordinário. Cai ametralhado em Junho de 1948 no monte Cadramom, graças ao trabalho contra-insurgente das 'brigadilhas' (guardas civis disfarçados de combatentes), que ganham a confiança dos seus enlaces. Junto a ele morre a moça Antonia Díaz. A operaçom repressiva dá lugar à detençom de 25 colaboradores de Luis Trigo Chao.
Impacto ambiental.
O parque eólico da Toxiza em Mondonhedo está a afectar gravemente ao ja maltratado LIC Serra do Gistral. As afeiçons dos parques eólicos aos espaços protegidos prodúcense principalmente pola construiçom de pistas, as cimentacions dos aeroxeradores, as linhas eléctricas de evacuaçom e subestacións e outras infraestruturas de almacenagem. Estas construçons destrúen a cuberta vegetal e, coma neste caso, drenan zonas húmidas branhentas ou turbosas destruindo totalmente hábitats prioritarios, fogar de plantas protexidas e reservorios de auga. Também som importantes as afeiçons á fauna, nomeadamente ás aves.
As colisións coas palas dos aerogeradores son frecuentemente constatadas por numerosos grupos ecologistas e científicos, xa que os impactos aumentan cando a néboa cobre os moinhos (algo mui frecuente), impedindo ás aves advertir que umha pala de 30 m se achega a toda velocidade. A dramática consecuencia é a morte de numerosas aves, mesmo especies protexidas e escasas, que rematan ao pé dos moinhos coas patas, ás ou cabeça seccionadas.
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